O bolo de casamento é mais do que uma mera sobremesa num casamento. É um símbolo rico em tradição, história e significado (que poucos tem conhecimento!), que foi evoluindo ao longo dos séculos começando por pães que eram considerados bolos até às elaboradas obras de arte culinária dos dias de hoje.
Originalmente, o “bolo de casamento” era confecionado a partir de cevada ou trigo, algo que é bastante diferente dos bolos que estamos habituados dos dias de hoje.
Para compreendermos a razão pela qual o trigo se tornou um elemento fundamental no bolo de casamento, é importante recuar no tempo.
Ainda no tempo do Homo Sapiens, quando a agricultura começou a ser vista como um meio para a nossa evolução, a primeira planta a ser cultivada foi o trigo que, rapidamente, se tornou uma das plantas mais prósperas na história do planeta. O cultivo do trigo marcou o início da criação de civilizações, permitindo o crescimento e a expansão da população humana.
Mas o trigo não era só apreciado pelo seu valor nutricional. Não, não.
Este cereal ganhou um estatuto quase divino, estando frequentemente associado a conceitos como fertilidade e renovação da vida.
No Antigo Egito, o trigo estava ligado a Osíris, o deus da agricultura e da ressurreição. Na Grécia Antiga, Deméter, a deusa da colheita, era basicamente a influencer do trigo, assegurando que as colheitas fossem sempre abundantes.
O trigo não era apenas um ingrediente para o bolo de casamento, era um símbolo de vida, uma promessa aos noivos duma união recheada de abundância e felicidade.
Como tudo começou…
Durante a época romana, era costume os convidados darem bolos de casamento aos noivos, simbolizando a generosidade da natureza, uma vez que o trigo como ingrediente do bolo de casamento é, nesta altura, considerado uma planta que dá vida.
Neste contexto, o noivo partia o bolo de casamento que era oferecidos, que antigamente eram vários pães, sobre a cabeça da noiva, um gesto simbólico que representava a submissão da mulher ao seu esposo. Algo que nos tempos de hoje, não ia correr muito bem, não acham? Já os convidados, competiam pelas migalhas que caíam ao chão, acreditando que isso lhes traria sorte e fortuna.
Este ato de partir o que era visto como bolo de casamento sobre a cabeça da noiva, foi evoluindo transformando-se em esfarelar o bolo de casamento sobre a cabeça da noiva, não apenas como um símbolo de fertilidade, mas também como uma forma de afastar os maus espíritos.
Com o tempo, este ato evoluiu de uma “chuva de migalhas” para a “confarreatio”, uma cerimónia na qual o casal partilhava as migalhas do bolo de casamento entre si. Este gesto simbolizava a comunhão e a promessa de união eterna, marcando o início de uma nova tradição que perduraria e se transformaria ao longo dos séculos.
O bolo de casamento em pirâmide
Na Idade Média, o bolo de trigo começou a ser substituído por pães que se colocavam uns sobre os outros criando uma pirâmide de pães, uma espécie de croquembouche. Esta inovação deu origem a uma nova tradição de casamento: se o noivo e a noiva conseguissem beijar-se por cima desta estrutura de pães, acreditava-se que seriam abençoados com uma vida de prosperidade e fertilidade. Se não conseguissem, o casamento não iria ter grande futuro…
O Bolo de Noiva versus o Bolo do Noivo
Avançamos para o século XVII, onde a tradição de ter bolos separados para a noiva e o noivo começou a ganhar forma. O bolo do noivo, muitas vezes um bolo de frutas escuro, era considerado um símbolo de boa sorte, enquanto o bolo da noiva começava a adotar o glacê branco, popularizado pela Rainha Vitória, que era visto como um símbolo de pureza e status.
Esta prática enfatizava a dualidade e complementaridade do casal, embora com o tempo o bolo do noivo tenha sido gradualmente absorvido pela tradição principal do bolo de noiva.
A torta da noiva
A torta da noiva, uma tradição que perdurou do século XVII ao XIX, era o bolo de casamento que tinha um anel escondido. Nesta altura, acreditava-se que a mulher que conseguisse encontrar o anel escondido seria a próxima a casar-se.
Podemos dizer que evoluímos da torta da noiva para o atirar o ramo às solteiras, não é verdade?
Se antes a sorte do matrimónia vinha escondida num bolo (uma tradição que podia correr muito mal diga-se de passagem mas um tanto para o interessante), agora, em maioria dos casos, voa pelo ar em forma de flores.
Bolo da noiva
A torta da noiva evoluiu para os bolos mais elaborados da era vitoriana.
O casamento da Rainha Vitória com o Príncipe Albert em 1840 é frequentemente citado como um momento que definiu a história do bolo de casamento e dos casamentos.
A Rainha Vitória adorava bolos ornamentais e vestidos de noiva que pesavam mais de 300 libras. A partir daqui o bolo de casamento tornou-se elaborado e acabou por ser denominado como bolo da noiva.
A Rainha Vitória, que popularizou o glacê branco, símbolo de pureza e status social, deu origem ao termo “cobertura real”.
Hoje em dia, os bolos de casamento modernos, longe dos simples pães da Roma Antiga, tornaram-se verdadeiras obras de arte, variando em cor, sabor e design. A indústria de casamentos no século XXI testemunha uma diversificação sem precedentes, com bolos que refletem os gostos pessoais dos noivos, desde bolos temáticos a criações minimalistas.
Da próxima vez que virem um bolo de casamento, ou quando estiverem a escolher o vosso, lembrem-se que não estão apenas a olhar ou a escolher uma delícia culinária, mas sim para um pedaço comestível da nossa história como seres humanos, repleta de simbolismo e tradição.
Grande, médio ou pequeno. Branco, azul ou preto.
Será o vosso bolo de casamento.